SONETO DA SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o
pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a
espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma
fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o
pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais
que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se
fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma
aventura errante
De repente, não mais que de repente.
SONETO DO MAIOR AMOR
Maior amor nem mais estranho existe
Que o
meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E
se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O
amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que
de uma vida mal aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E
quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à
sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de
tudo e de si mesmo.
SONETO DO CORIFEU
São demais os perigos desta vida
Para
quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa
no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir
uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto
uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e
sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.
Uma mulher que é
como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor
que vive nua.
Amado Poeta Vinicius de
Moraes
Eu sempre vou te amar
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