SONETO
DA FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face
do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vive-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e
derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E
assim, quando mais tarde me
procure
Quem
sabe a morte, angústia de quem
vive
Quem
sabe a solidão, fim de quem ama
Eu
possa me dizer do amor (que
tive):
Que
não seja imortal, posto que é
chama
Mas
que seja infinito enquanto dure.
SONETO DA LUA
Por que tens, por que tens olhos
escuros
E mãos lânguidas, loucas, e sem
fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em
mim
Impuro, como o bem que está nos puros ?
Que paixão fez-te os lábios tão
maduros
Num rosto como o teu criança
assim
Quem te criou tão boa para o
ruím
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me
pressa
A alma, que por ti soluça
nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tão pouco a mulher que anda na
rua
Vagabunda, patética e
indefesa
Ó minha branca e pequenina lua !
Nosso Poeta - Vinicius de Moraes
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