O CORREDOR DA MORTE

 Sabemos tão pouco a respeito da vida...
passamos os dias correndo atrás de nada,  para esgotar
 todos os nossos minutos e não precisar ouvir os lamentos 
do nosso coração.
Sonhamos com a eterna juventude e não percebemos
que nossa Alma envelhece um pouco a cada dia, à espera 
de um motivo que justifique a nossa presença nesse
  intrincado e maravilhoso Universo.
Estamos condenados à viver...
Vivemos como se estivéssemos presos a um
"corredor da morte", à espera do carrasco que
anunciará, finalmente, o nosso último dia.
Criamos uma rotina - baseada em regras e modelos
inventados  por pessoas que nunca olharam em nossos
 olhos ou pararam para ouvir um pouco da nossa
história, ou de nossos medos
 - para não enlouquecermos de tédio.
Inventamos sonhos pequenos e quase sem poesia; 
para conferir um significado a este instante longo 
entre a chegada e a execução.
Distraímos nosso coração enfeitando a cela e 
chamando-a  de lar; inventamos histórias de 
amor, para não nos desesperarmos com a 
angustiante espera.
Chamamos nosso carrasco de "Anjo da Morte" 
e o  juiz, de Deus.
Aceitamos a nossa pena porque não ousamos questionar 
o "respeitável tribunal"; ansiamos pela prorrogação da
 sentença, mas não ousamos sonhar com a absolvição.
Somos seres conformados, delicados demais para gritar
 por justiça, ou por felicidade, aliás, a nossa polidez e
insegurança talvez sejam os maiores aliados de
 nossos algozes.
Temos vergonha de chutar as grades; tentar arrancar
as algemas à força; gritar mais alto que o carcereiro;
rejeitar a comida que odiamos...
Somos seres dóceis, que se adaptam com muita 
facilidade à dor, à punição, à espera interminável, 
à infelicidade mansa e silenciosa (se ela for barulhenta 
e nos denunciar, damos um jeito de calar seus gritos), 
à humilhação, às limitações impostas e às mentiras 
inventadas por nós mesmos, para disfarçar tudo isso.
Não nos acreditamos feitos para os jardins, preferimos
 os quartos seguros, com paredes grossas e grades nas janelas.
 Não ousamos almejar um mundo sem cercas, pois nossa meta
é uma corrente mais longa e uma coleira menos apertada.
 Não nos permitimos a poesia, optamos por respostas
 "coerentes"  e enquadradas na lógica dos pequenos
 arquitetos deste universo.
Sentimos muito pouco e aprendemos, desde cedo, a não
manifestar nossos sentimentos, para que o mundo não
perceba nossa humanidade.
Queremos possuir coisas, ainda que saibamos que tudo
 ficará "guardado" em "lugar seguro" pelo carcereiro
 para,  posteriormente ser entregue aos nossos 
familiares; essa certeza nos conforta e nos dá mais 
coragem para caminharmos em direção à dose letal.
Fingimos, o tempo todo, que tudo será para sempre
 e que, no último instante, o veneno perderá seu
 efeito e, milagrosamente, venceremos a morte, 
sairemos vitoriosos...  como se morrer, não fosse 
uma maneira de vencer a vida;
só nos esquecemos de que viver em plenitude e com 
alegria, é a única maneira de vencer a morte.

Míriam Morata Novaes
Extraído do Jornal Magus
 
 
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