Gostar é tão fácil...
que ninguém aceita aprender
!
Talvez seja tão simples, tolo e natural
que você nunca tenha
parado para pensar:
aprenda a fazer bonito o seu amor.
Ou fazer o seu amor
ser ou ficar bonito.
Aprenda, apenas...
a tão difícil arte de amar
bonito.
Gostar é tão fácil que...
ninguém aceita
aprender.
Tenho visto muito amor por aí,
amores
mesmo, bravios, gigantescos,
descomunais, profundos, sinceros,
cheios de entrega, doação e dádiva,
mas esbarram na dificuldade
de se
tornar bonito.
Apenas isso: bonitos, belos ou
embelezados,
tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com
arte e ternura de
mãos
jardineiras.
Aí esses amores que são verdadeiros,
eternos e
descomunais
de repente se percebem ameaçados
apenas e
tão somente porque não
sabem
ser bonitos...
... cobram; exigem; rotinizam; descuidam;
reclamam; deixam de compreender;
necessitam mais do que oferecem;
precisam mais do que atendem;
enchem-se de razões.
Sim, de
razões.
Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se
sente no
direito (e o tem) de reivindicar,
de exigir justiça, equidade,
equiparação,
sem atinar que o que está sem razão
talvez passe por um momento de sua
vida no qual não possa ter razão.
Nem queira.
Ter razão é um
perigo:
em geral enfeia o amor, pois é invocado
com justiça, mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter
razão.
Ponha a mão na consciência.
Você tem certeza que está fazendo
o seu amor bonito?
... de que está tirando do gesto, da
ação, da
reação, do olhar, da saudade, da alegria
do encontro, da dor do desencontro, a
maior beleza possível?
Talvez não...
Cheio ou cheia
de razões, você espera do
amor apenas aquilo que é exigido por suas
partes necessitadas, quando talvez dele
devesse pouco esperar, para valorizar
melhor
tudo de bom que de vez em
quando
ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso...
sofre, e
sofrendo deixa de amar bonito.
Sofrendo, deixa de ser alegre igual
criança.
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o
romantismo.
Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas
e enfeite a
cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe
alegre.
Recomendam-se:
... encabulamentos; ser pego em flagrante
gostando; não se cansar de olhar, e olhar;
não atrapalhar a
convivência com teorizações;
adiar sempre, se possível com beijos,
"aquela
conversa importante que precisamos ter",
arquivar se possível, as reclamações
pela
pouca atenção recebida.
Para quem ama toda atenção é sempre
pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção
pode ser toda atenção possível.
Quem ama bonito não gasta o
tempo dessa
atenção cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o
amor...
(deixe isso para nós, pobres escritores que
vemos a vida como criança de nariz
encostado
na vitrine, cheia de brinquedos
dos nossos sonhos):
Não teorize sobre o amor...
Ame
!
Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo
exatamente de tudo o que
você teme, como:
a sinceridade; não dar certo; depois
vir a sofrer
(sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração;
contar a verdade do tamanho do amor que
sente.
Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas,
golpes, espertezas, atitudes sabidamente
eficazes (não é sábio ser sabido)
Seja apenas você no auge de
sua emoção e carência.
Exatamente aquele você que a vida impede de
ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.
Falando
besteiras, mas criando sempre.
Gaguejando flores.
Sentindo o coração bater
como no tempo do
Natal infantil.
Revivendo os carinhos que instruiu em criança.
Sem
medo de dizer, eu quero, eu gosto,
eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor
bonito,
ou fazer bonito o seu amor, ou bonito fazendo
seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito
(a ordem das frases
não altera o produto),
... Sempre que ele seja a mais verdadeira
expressão
de tudo o que você é, e nunca, deixaram,
conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu
conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas
definições.
Cuide agora da forma.
Cuide da voz.
Cuide da fala.
Cuide
do cuidado.
Cuide do carinho.
Cuide de você.
Ame-se o suficiente
para ser capaz de gostar
do amor e só assim poder começar a tentar
fazer o outro feliz.
Arthur
de Távola
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