Gênesis
Quero
ser o rio e não o que leva a correnteza, pois quero ser a origem e
não a conseqüência.
Quero ser o galho que é levado no
bico e não o pássaro, pois antes de ser o criador, quero ser a massa de
que é feito a criatura.
Quero ser o fruto e não a
semente e menos a raiz, pois quero antes de sustentar , antes de
procriar, adoçar e alimentar os que serão filhos da terra.
Quero ser o
que vai e não o que vem, para antes de ser a esperança no sorriso de quem
chega, ser a fé na
lágrima de quem parte.
Quero antes de ser múltiplo ser único,
para antes de me conformar com a perpetuidade da luta não esquecer de
lutar pela sobrevivência.
Quero ser o que me proponho a ser e
não o que gostaria de ser,pois assim, ainda me bastará não me tornar
o que definitivamente não sou.
Seria fácil querer ser a mão
ingênua que sempre perdoa mas reconhecendo não ser santo,
prefiro ser o que atira a pedra convicto, pois me sobrará no juízo,
depois do veredicto, o papel de ao não ser perfeito, ter sido honesto
com meu sentimento de revolta e justiça; e por não ter sido
leviano, ter uma nova chance de me tornar melhor.
Quero ser a pergunta e não a resposta,
pra nunca perder a sede de aprender e a humildade de reconhecer meu mais
absoluto despreparo como ser humano.
Ah! como eu queria amar e ser amado para
não sofrer o revés de, ao ser um e não ser outro, morrer por ter um
amor pela metade.
Só não quero escolher entre ser o antes e o depois, pois como Deus, não
teria esse delicioso e inesgotável prazer de não ter direito a escolha,
mesmo a errada, essa que tenho feito nos momentos mais delicados de minha
vida mas da qual, não me passa pela cabeça
qualquer arrependimento. Ou passa?
Quero ser isso e não
aquilo e depois aquilo e não isso para, conhecendo os dois lados da face da
moeda, saber o que me caberá quando ela for lançada no espaço e não
depois que ela cair no chão.
Quero viver e morrer e renascer de
novo para entender que tudo que fiz é conseqüente e que com o tempo me
devolverei à origem de tudo, para poder ser parte integrante da célula
inteligente, responsável por tudo aquilo que de mim
nascerá pelos milênios e milênios
que jamais
deixarão de vir.
Claudio Rabello
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