ELE É O MEU IRMÃO

"Antes sede bondosos uns para com  os  outros,  compassivos,
perdoando-vos uns aos outros" (Efésios 4.32).

Em uma noite de rigoroso inverno, a  campainha  da  casa  do
médico, daquela aldeia afastada, soou  insistentemente.  Sem
se demorar o atencioso clínico abriu cautelosamente a porta,
por causa do vento que soprava com violência, e verificou  a
presença de um menino de uns oito anos de idade aproximados.
Estava com a cabeça enfaixada  com  um  pano  já  totalmente
ensopado de sangue e demonstrava sentir dores.

- Mas, meu filho, o que aconteceu com  a  sua  cabeça?  Está
ainda sangrando!

- Bem, doutor,  meu  irmão  e  eu  brincávamos  em  cima  do
celeiro; de repente, ele quis a peteca que estava  na  minha
mão. Eu, naturalmente, não a entreguei porque me  pertencia.
Então, ele ficou muito irritado e me empurrou lá de  cima  e
eu caí do alto bem em cima de um velho tonel,  que  meu  pai
havia colocado por ali,  e  feri  a  minha  cabeça  na  fita
metálica que o reforça.

O médico, pacientemente,  o  conduziu  para  o  seu  pequeno
consultório. O exame, relativamente demorado, mostrou que no
ato da queda uma boa extensão do  couro  cabeludo  abriu-se.
Todo o local foi muito bem lavado com  água  oxigenada;  mas
foram necessários muitos pontos para recolocar a pele no seu
devido lugar. Em virtude da  emergência  do  caso,  não  foi
possível providenciar-se qualquer anestésico. Apesar  disso,
o menino se  portou  com  uma  extraordinária  fibra.  Ficou
quietinho, não chorou e nem gritou, apesar de toda a dor que
sentiu. Terminada a operação, o médico, surpreendído  e  até
emocionado  com  aquela  tão  grande  coragem  do    garoto,
ofereceu-lhe  como  prêmio  um  tablete  de  chocolate.   Ao
entregá-lo, aconselhou-o dizendo:

- Olha, meu filho, enquanto caminhar de volta para casa,  vá
comendo o chocolate. Isso fará com que recupere um pouco das
energias que perdeu. Entretanto, para surpresa  ainda  maior
do médico, o menino respondeu:

- Sim, doutor, muito obrigado. Vou comer; mas comerei apenas
a metade. O restante vou levar para o Renatinho.

Entre admirado e intrigado, o médico replicou de imediato:

- Mas escuta aqui uma coisa: esse Renatinho é o seu irmão?

- Sim, é ele mesmo o meu irmão gêmeo. O meu nome é Ricardo -
explicou o menino.

- Até aí, tudo bem - concordou o médico, e continuou: -  Mas
não foi ele quem o empurrou de cima do  celeiro,  depois  de
querer sua peteca?

Com  um  brilho  singular  nos  seus  olhinhos,  o   pequeno
respondeu com toda amabilidade e ternura tão próprias de uma
criança da sua idade:

- É verdade, doutor; mas mesmo assim ele é o meu irmão!

Que maravilhosa lição de amor deu o pequeno paciente ao  seu
médico. Tantas vezes nos prejudicamos porque a nossa  reação
natural é sempre a de desejar retribuir o  mal  com  o  mal.
Seríamos também felizes se, como  Ricardo,  cultivássemos  a
prática do perdão. Perdoar é obrigação. Não se faz  nada  de
extraordinário, quando se perdoa o ofensor.
 
Paulo Barbosa
 
 
 
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