COMO DESCOBRI MINHA FILHA

A riqueza da experiência humana,
perderia uma certa alegria recompensadora
se não houvesse limites a superar.
Helen Keller

Eu não queria acreditar em meus próprios olhos.
Tem que haver alguma outra explicação para
o que eu vi, fiquei repetindo para mim mesmo,
tentando esconder minhas preocupações.
Eu estava junto a minha esposa Diana, após
o  nascimento da nossa filha Sandra.
Diana estava radiante, deitada na cama
hospitalar, falando com seus pais ao telefone.
Mas ela ainda não tinha visto nossa filha.
Ela não percebera a expressão alarmada nos
olhos da enfermeira, instantes antes de levar
o bebê embora, rapidamente. Não tínhamos feito
nenhum teste. Não recebêramos nenhum alerta.
Perdi toda esperança quando o medico entrou
e sentou -se. Ele esperou pacientemente que
Diana terminasse sua conversa e desligasse
o telefone para dar a noticia devastadora:
"Eu sinto muito.
A filha de vocês tem síndrome de Down."
Diana reagiu bem a noticia.Durante 9 meses ela
criara um vinculo com o bebê.
Mesmo antes de trazerem Sandra para que ela
a segurasse, minha esposa já amava de todo
coração.Mas eu não.Tive que pedir licença e
sair do quarto. Andei pelos corredores durante
horas, socando as paredes e chorando muito.
"Por que você fez isso com minha filha ?" ,
gritei para um Deus a quem subitamente desprezei. "Por que ela ? Por que eu ?"
Por que Sandra não podia ser perfeita
- como nosso filho de 3 anos, Aaron ?
Aaron era meu xodó.eu adorava passear com
ele na chuva, mostra- lhe as minhocas e 
caracóis, brincar com ele nas noites de sexta-feira, quando Diana trabalhava ate 
tarde.  Eu contava historias para ele na hora
 de dormir. Com Sandra, as coisas foram inteiramente diferentes. Depois que trouxemos para casa, corri para biblioteca e li tudo o que encontrei sobre síndrome de Down. Procurei desesperadamente um fio de esperança , por mais tênue que fosse. Mas quanto mais eu lia, mais desanimado ficava. Não havia nenhuma cura milagrosa para o que eu chamava de "situação
 de Sandra". Naquela época, eu sequer consegui dizer as palavras "síndrome de Down."
Diana e eu começamos a freqüentar um grupo
de apoio, mas depois de algumas semanas não
consegui mais ir. Ouvir os pais de crianças mais
velhas que tinha a síndrome de Down descrevendo os muitos problemas de saúde que enfrentavam me deixava totalmente desesperado.
É esse nosso futuro ?, eu não conseguia deixar
de me perguntar E de fato, quando Sandra tinha
6 meses de idade, ela precisou fazer uma
cirurgia no coração.
"Meu Deus, por favor, não tire Sandra de mim",
rezava Diana, mas esta era uma reza da qual
eu não conseguia participar.
Talvez seja para melhor, eu pensava secretamente, sem me permitir acrescentar - melhor para quem ?
À medida que o tempo passava, eu levava Sandra
zelosamente a médicos e terapeutas. Massageava
suas pernas e tentava desenvolver seu tônus
muscular.Tentava ensinar - lhe a andar e falar ,
e ficava mais frustrado e deprimido com a pobreza dos resultados. Dediquei - me inteiramente a fazer Sandra melhorar. 
 Eu estava determinado a "concerta- la", mas 
isso era tudo o que eu podia - tentar fazer reparos. Eu não sentia amor por minha filha.
Eu só a tirava do berço para trocar  fralda ou fazer uma de suas terapias.
"Esta sendo difícil para você amar Sandra",
Diana me disse, um dia suavemente.Tive que
admitir que ela estava certa.  Eu estava envergonhado dos meus sentimentos, e,
que Deus me perdoe, eu estava envergonhado
 da minha menininha.
Ficava embaraçado de ser visto com ela.
As pessoas diziam "Ah, mas ela e tão bonitinha!",
e eu tinha vontade de agarrá- las pelo colarinho
e gritar: "Vocês estão mentindo!"
A minha raiva transformou - se em tristeza e minha tristeza deu lugar à apatia e a distancia.
Mesmo os passeios e jogos com Aaron perderam
a graça, porque me faziam pensar em todas coisas
que Sandra nuca poderia fazer.
Continuei a cuidar de Sandra, mas tornei - me cada vez  mais desesperançado e distante.
"Vai ser sempre assim.",
suspirei um dia, há cerca de um ano, enquanto colocava minha filha de 2 anos em sua 
cadeirinha de comer para dar seu almoço. Coloquei sua comida em um prato me sentindo inteiramente vazio por dentro. Mas, quando me aproximei da cadeirinha de Sandra, ela virou sua cabeça e olhou para mim atentamente, com seus grandes olhos azuis. Então estendeu os dois braçinhos  e me abraçou com toda força, como 
se dissesse: "Papai, eu vou fazer a sua tristeza 
ir embora."  Foi um verdadeiro milagre. 
Retribui seu abraço  e comecei a chorar, não 
mais de tristeza. Eu estava chorando porque a minha menininha  tinha me mostrado o que era 
ser amado inconscientemente.Por um breve instante tínhamos trocado de papel. Sandra havia me dado o amor que  há tanto tempo eu 
não consegui lhe dar. Eu havia me lamentado porque minha filha não era perfeita, mas quem era eu para exigir perfeição, quando ainda 
tinha muito a aprender? Quem era eu para
 chorar pelo que poderia ter sido, em vez de aceitar e valorizar minha filha do jeito que ela
 é e sempre será  - um ser humano muito especial ? 
Sandra me ensinou a abrir meu coração e amar
espontaneamente, sem expectativas.  Eu tinha
gastado tanto tempo e energia procurando 
fazer com que Sandra atendesse as minhas expectativas, que me  esquecera inteiramente
 que apenas curti sua companhia e o que ela 
tinha a me oferecer. Eu não cometo mais esse erro. Hoje em dia, e leio para meus 2 filhos na hora de dormir, e nas manhas de sábado você 
nos encontra, os três, enroscados no sofá, assistindo a desenhos juntos.E sempre que
 estou fazendo Sandra rir das minhas caretas,
 ou jogando bola com ela, ou abraçando uma 
de suas bonecas, nunca deixo de pensar : 
agora  que finalmente abri meu coração para Sandra,  Ela o enche todos dias até a borda 
de alegria e amor.

Mike Cottril

 

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